Profissão perigo

Recentemente, estava conversando com um amigo sobre as diversas atividades profissionais que já exerci ao longo desses 38 anos e cheguei ao número de vinte. Omiti, por conveniência, uma que quase deu certo (risos).

Como pai de três filhos, “desenvolvi” a habilidade de descobrir o mês de gravidez de uma mulher e o sexo do bebê apenas por olhar o tamanho da barriga e a posição em que ela se encontra, um pouco pra cima ou pra baixo, do lado esquerdo ou direito. É complexa a parada, mas, estava indo bem, até o dia em que aconteceu algo que me fez desistir definitivamente disso.

Mas antes, deixe me contar de uma situação que tem causado constrangimento nesses dias, não a mim, mas estou no meio.

Como fui pai um pouco cedo, minha filha mais velha está agora com treze anos e eu com cara de uns vinte e poucos (risos). Assim, quando saímos juntos, temos sido confundidos com marido e mulher com frequência. E não foi uma ou duas vezes, às vezes percebo que as pessoas me olham até de um jeito estranho… Bom, vamos aos fatos concretos.

Uma colega de trabalho me diz: “muito linda sua esposa, Rondon”. Eu estranhei, pois não poderia imaginar onde ela tinha visto uma foto minha com minha esposa “real”. Logo imaginei “de novo”.  Não deu outra, eu havia colocado uma foto com minha filha no aplicativo de comunicação instantânea e lá houve a confusão. Achei melhor tirar a foto imediatamente. Outro caso notório foi há poucos dias no hospital. Lá estou eu com ela e olhares curiosos de todos os lados ‘dizem mais do que mil palavras’. Até que um senhor de uns oitenta anos com nada mais a perder ou ganhar na vida arrisca ao final de uma conversa amigável que tivemos: Ela é sua esposa ou namorada? Após as explicações deu dó do senhorzinho, não sabia onde colocar a cabeça. Mas, tudo bem.

Voltando as minhas atividades “obstetrícias ultrassonografistas” (inventei agora). Entrei em uma loja com uma amiga e vi uma mulher com a barriga saliente. A força do habito surgiu e já conhecei a analisar tamanho e altura dividido por formato arredondado pendido uma pouco para o lado direito e sem mais soltei: “Cinco meses e menina”. A mulher assustou: “O que?” Eu todo confiante: sua gravidez, você está de cinco meses e é uma menina. Estou certo? Ela: “Não eu não estou grávida é uma problema que tenho, minha barriga incha assim.” Bom, tenho que perdoar compreensivamente a todos que me confunde como marido da minha filha deve ser pra pagar a minha língua grande. No mesmo dia abandonei a profissão.

(Rondon)

Você pode produzir uma pérola?

Estive pensando sobre a expressão de uma colega de profissão há um tempo: “esses alunos me esgotam!” Eu, obviamente concordei. Pois há dias em que nos sentimos esgotados pela irritação de alguns de nossos pupilos. Mas isso me fez pensar no processo de produção e valor de uma PÉROLA.

As pérolas, por incrível que pareça, são o resultado de um corpo estranho que irrita, ao invadir, o interior de uma ostra e que é recoberto com uma camada de carbonato de cálcio pelo molusco  para tentar isolar o “invasor”, assim, surge uma das joias mais antigas e preciosas que existe.

O valor de uma pérola pode ser imensurável. Para se ter uma ideia no apogeu do império Romano, o general Vitellius financiou UM EXÉRCITO INTEIRO vendendo apenas UM dos brincos de pérola de sua mãe.

A pérola que ostenta o recorde de maior gema natural do mundo foi encontrada no interior de uma ostra gigante na costa de Palawan nas Filipinas em 7 de maio de 1934. Para o livro dos recordes, essa é a maior gema natural do planeta, tendo o Instituto de gemas de São Francisco calculado esta pérola em 40 milhões de dólares. Ela pesa 6,4kg e mede 23,8cm

E você pode produzir uma pérola com os “corpos estranhos” que aparecem em seu caminho? É verdade que uma pérola pode levar até 20 anos pra ser produzida, mas irá durar por uns 150 anos ou mais, se bem cuidada.

Eu espero que em pouco tempo a paciência e dedicação que demonstro resulte em ver uma linda pérola brotar nos irritantes corpos estranhos com os quais tenho que lidar diariamente!

Palhaçada…

Certa vez um amigo, palhaço de profissão, disse que o circo era a sua vida. Hoje eu acredito que, na verdade, a vida é que é um grande circo. Nosso dia a dia é repleto de desafios e alegrias, como a vida circense. E quantos desafios! E muitas alegrias.

O motivo de lembrar-me disso, é que quero compartilhar uma “aventura”, que outro amigo meu vivenciou. Ele não era, naturalmente, um “palhaço”, era até sério, mas vivia fazendo graça. Como trabalhava viajando frequentemente, e a estrada, invariavelmente, é cansativa, ele vivia criando oportunidades para quebrar o tédio do trajeto.

Nessa ocasião ele viajava com outro amigo, não menos, extrovertido. Contam que num determinado trecho da estrada o carro deles, em alta velocidade, ultrapassava outro que ia no mesmo sentido, em baixa velocidade. Nesse, um senhor sério e de certa idade. Ao fazer a passagem, como era o amigo que dirigia ele, do nada, resolveu despertar seu lado “palhaço” e, do modo mais sensual possível, mandou um longo beijo para o senhor que, nesse instante, arregalou os olhos para ver se era verdade o que via.

Na confiança de que nunca mais veria o cavalheiro do carro ao lado, ele nem ficou vermelho com a brincadeira de criança, mesmo sendo um homem barbado.

Qual não foi sua surpresa, quando o colega, motorista, mais palhaço ainda, diminuiu a velocidade e emparelhou o carro com o do homem. Esse amigo conta, dando risada, que não sabia onde colocar a cara e, como uma criança tímida, foi encolhendo o corpo até sumir no banco do carona. Dou risada até hoje quando lembro.

Mente coração…Coração mente

(Sentado em frente ao notebook sem nenhuma ideia na cabeça)

Mente: Preciso escrever algo.

Coração: Vichi, lá vem m…

Mente: silêncio que você não me deixa pensar.

Coração: pensar pra quê escreve o que vem no coração.

Mente: Ai vai sair m…

Coração: Está vendo esse monte de letras aí? Vai combinando elas que vai sair “algo”.

Mente: Vou escrever uma poesia.

Coração: Ui! Meloso. Que tal um soneto? Camões.

Mente: Por incrível que pareça você tem razão. Nada de poesia hoje. Um conto então?

Coração: Apesar de menor que um Romance, com apenas um conflito, é longo para o espaço que temos.

Mente: Não acredito que você está me dando conselho. Estou pensando alto e não te perguntando, seu irracional!

Coração: Faz assim, sabidão, escreve o que for vindo à cachola, depois você dá o nome que quiser. O texto é seu.

Mente: O problema é que não me vem nada agora. Nem uma croniquinha que seja. Acho que vou escrever um texto técnico. Isso! Vou explicar regras ortográficas, gramaticais, acentuação, novo acordo…

Coração: Kkkkkkkk. Quem vai perder tempo com essas baboseiras que ninguém entende? Deixa de ser tonta. Escreve algo sobre as variações linguísticas, que é tolerante, aceita o modo como as pessoas falam desde que o contexto seja adequado. Vai por mim, vai ser até novidade pra alguns. Fale do Marcos Bagno e o livro “Preconceito Linguístico”. Isso é ser racional.

Mente: Não acredito. É o fim. Sem ideia e tendo que dar razão a esse sujeito que só age por impulso. Deve ter aprendido algo do crânio aqui. Vou pensar em tema primeiro depois decido o que escrever.

Coração: Que tal “com frito”?

Mente: CONFLITO?!?

Coração: Eu disse “com” espaço “frito”.

Mente: Nada a ver.  Para de dar ideias que você já vai ajudar muito. Vou escrever algo sobre Mente & Coração, ou Coração MENTE! Entendeu?!?! Coração Mente. É trocadilho. Deixa pra lá. Você não vai entender. Vichi, o tempo passou rápido. Não vai dar para escrever é nada. Tenho que ir. Fui!

Autor: Eracio Rondon

Relato de experiência…ou falta dela.

A Subida…

Existem habilidades na vida que são naturais. Quantos exemplos podemos citar de pessoas que aprenderam a tocar determinado instrumento sem nunca ter tido um instrutor? Que dizer de pintura? Desenhos ou esportes? Para muitos praticar determinado esporte é coisa corriqueira. Vejam as piruetas das atletas olímpicas ou as técnicas de um Messi ou Neymar. Para outros, dirigir é coisa banal. Muitos o fazem sem ao menos pensar no ato em si. Trocam as marchas com a precisão de um cirurgião. Dar uma ré? Que banalidade. Alguém escrever sobre a facilidade que é dirigir? Que perda de tempo. Que falta de assunto…

Pois saibam, que não é todo mundo que pensa assim! Dirigir é uma arte, que nem todo habilitado sabe dominar. É uma habilidade, que não se aprende com facilidade. É uma perícia, que nem todos desenvolvem com meras 50 horas aulas, mesmo na Auto Escola mais renomada do País. É um dom, que não tenho…

Nos últimos três anos venho procurando incansavelmente adquirir as competências e habilidades de um motorista, que seja, mediano. E nada! Mas o que me aconteceu hoje, acredito, foi a gota d’água. Agora ou vai ou racha! Ou sei lá o que vai acontecer, mas amanhã vou trabalhar de carro! Acho…

Vejam bem, lá vinha eu, retornado do trabalho. (mas um em que tive a coragem de ir de carro) Normalmente vou de ônibus, trem e mais vinte minutos de caminhada, apesar de ter comprado um carro, que passa mais tempo na garagem, que rodando. Pois bem, como dizia, lá vinha eu. Na ida, pela manhã, “dê boa”. No meio da manhã, não tem muitos carros na via. Vou voando, na segunda marcha a quarenta por hora, minha velocidade máxima (um dia aprendo colocar na terceira). Lá vinha eu naquela fila longa. Já tinha “afogado” o carro umas três vezes nos últimos dois quilômetros, apesar das ruas planas. (a culpa é dos semáforos). Lá vinha eu pensando naquela subida que parecia a do morro do corcovado. À medida que ela ia se aproximando e os carros, a meio metro, de frente e de trás, não me restava nada mais que rezar. Era só o que eu vinha fazendo nos últimos dois quilômetros. Nunca rezei tanto por metro rodado!

Com a subida à frente, não restava outra opção, senão, subir. Fui devagarzinho, pois, graças as minhas preces, a fila estava andando. Na primeirinha, sem parar, o trânsito fluiu, até quando eu estava na metade da imensa marcha, naquela longa subida. De repente, tudo parou lá em cima e, com a delicadeza de um rinoceronte, pisei no freio. Adivinhem o que aconteceu? Isso mesmo. O CARRO AFOGOU! (pânico) Como de praxe minhas vistas cegam e meus ouvidos ficam supersensíveis. A fila começou a andar. Os carros da frente sumiram de vista e os de trás? Buzinas a todo vapor! Parecia passeata de final de copa do mundo, em que o Brasil foi campeão. Eu com muita dificuldade consegui ligar a máquina mortífera. Tento sair (afoga). Tento de novo (afoga) Outra vez (afoga). Os barulhos das buzinas estão insuportáveis. Foi então que tomei a decisão mais inusitada e corajosa do mundo.

Desliguei o carro. Tirei a chave da ignição. Liguei o pisca alerta. Desci do carro. Tranquei a porta e, sem ao menos olhar para trás, sai andando. Os carros logo perceberam que tinham como passar, sem ser por cima do meu. Fiquei esperando em um local próximo até que, depois de uma hora e meia, o trânsito acabou. Voltei ao carro. Dei a partida e sai, como uma hábil motorista, sem mais transtorno. Um velhinho que estava sentado em uma cadeira de balanço em uma casa ao lado assistiu toda a cena e certamente não deve ter entendido nada. Mas eu entendi que se você deseja vencer um obstáculo e preciso estratégia e minha estratégia para amanhã é ir trabalhar de carro. Ah! Se vou!!!

A praia

A famosa Praia dos Caranguejos em Jaraíba do Norte é conhecida como a praia mais badalada destas bandas.

Como era minha primeira vez nela, de início temi entrar na água, com medo de seu nome ser mais do que um “nome fantasia”

No entanto, após um tempo reuni coragem, entrei de mansinho naquela água escura e quente, a praia é de água doce, como sabem.

Ao tocar os pés no fundo senti uma coisa esquisita na ponta do dedão do pé esquerdo.

Comecei a pular desesperado, gritando, chamando à atenção de todos que ali se encontravam.

Foi após me acalmar um pouco que percebi que se tratava apenas de uma inocente concha.

Aprendi então que o medo é o pior inimigo da razão.

Paola Guedes

Dia de chuva

Dia de chuva aqui é assim:

Aos primeiros pingos, começa a agitação.

A madame olha pra cima, pra conferir se é mesmo verdade, e com jeitinho acelera o passo.

A idosa sabe que vai molhar os pés, pois não consegue ser tão ágil como outrora, mas, prevenida, saca da bolsa o guarda chuva, sem presa.

O vovô, recorda do último temporal, em que ficou preso dentro do fusca em meio à enchente e engata uma terceira.

A jovem, pensa no risco que corre de perder o gasto do dia anterior com o cabeleireiro, e estica a perna ao limite, sem perder a elegância.

O rapazote, finge não ligar, mas sabemos que aos primeiros pingos sairá correndo sem ligar para quem olha.

O garoto, espera que a chuva chegue antes de ser possível se abrigar, pois deseja ver novamente a água escorrendo da cabeça pelo rosto.

Há ainda aqueles que de forma elegante se fazem de indiferentes à toda agitação e conversam animadamente aos grupos.

A bela solitária, de roupa elegante, com a bolsa nos ombros grudada ao corpo, desfila sem presa com as mãos nos bolsos.

Nos pontos de ônibus, os passageiros se espremem, em busca de espaço, à medida que a chuva engrossa.

Taxistas empolgam-se com a possibilidade de salvar alguém do banho.

Duas senhoras se abraçam sob o pequeno guarda chuva e caminham conversando.

E eu, atento a tudo que acontece, permaneço na chuva como parte da minha rotina, pois tenho que ficar aqui, na esquina, sou Agente de Trânsito.

Eracio Rondon

Que mulherão!!!

                 Lá estava eu para mais uma longa jornada de trabalho, entrara as 18h iria até as 6h do dia seguinte. Como porteiro tenho muitas histórias pra contar. Dali tudo se vê. Não só pelas câmeras a olho nu também se vê muito. Bom, nesse dia o que vi, a olho nu, me faz rir até hoje, e olha que já se vão anos.

Há muitos anos, em uma palestra, ouvi o instrutor dizer: “mulher na rua só se olha até os ombros.” Não me lembro o contexto dessa declaração, mas o que ele queria dizer é que o homem contido, equilibrado, digno, não vira a cabeça além dos próprios ombros para ver uma mulher que passa, muito menos, então, virar todo o corpo como se vê costumeiramente.

                 Parece que o rapaz que passou em frente à portaria nesse dia não assistiu a mesma palestra. Uma loira escultural acabara de passar e eu, como sempre, fiquei indiferente, (sabemos) segui a regra do instrutor ao pé da letra. Mas o jovem mancebo ignorou-a e não só virou o pescoço além dos ombros como todo o corpo e lá se foi ele andando de costas, ou não, pois o pescoço estava tão virado para trás que parecia que ele tinha um problema físico, a medida que a moça ia se distanciando ele diminuía o passo para não perder nada.

               No entanto, a prefeitura havia iniciado uma obra na calçada e, não concluído, deixaram um buraco aberto, mal sinalizado por sinal, o nosso amigão foi de joelho e do jeito que caiu ficou ajoelhado. Pensam que ele parou de olhar? Olhou até a última gota. Quando a donzela sumiu de vista ele calmamente saiu, se limpou, deu uma conferida no joelho e viu que, afinal, o tombo tinha valido a pena. Ainda olhou pra mim e disse: aí sim!!!! Hein?!?!  Que mulherão!!!!

                                                                                    Autor: Eracio Rondon

Quito o Periquito.

Meu trauma de ter animal de estimação Começou a muito tempo quando morei no Norte do País, Ji-Paraná, RO.

A morte trágica e repentina de Quito, meu periquito, fizera-me desistir de ter um bichinho de estimação no futuro.

Era um amigo muito carinhoso, apesar de ter ganhado ele já adulto, de uma família que mudara do Estado.

Lembro-me de como Quito se alvoroçava quando escutava o barulho do motor do carro quando eu chegava do trabalho às tardes. Mas nesse dia fatídico, ao chegar em casa notei algo anormal. Estando só tendo Quito há dias como única companhia, pois minha esposa havia viajado para visitar os pais em São Paulo, ao estacionar o carro na garagem estranhei algo, não o ouvi na porta da frente como era costumeiro. Entrei em casa apavorado. Ele ficava solto em casa e não tinha as asas cortadas como costumam fazer. Ao procura-lo gritando por ele em todos os cômodos da casa pressenti que o pior havia acontecido: -Quito foi embora! pensei.

Após ficar procurando em vão, pois sabia que ali ele não estava, de outra forma estaria à porta esperando, olhei com tristeza para o único lugar que ainda não o havia procurado, o banheiro. Cai literalmente em prantos não envergonho de dizer.  Apesar de já ter passado mais de dez anos, sei que choraria muito ainda hoje, pois o estimava muito. Lá estava ele, duro, morto, dentro do vaso…

Eracio Rondon